Este blog foi criado com o intento de ampliar as discussões sobre História Antiga, título da disciplina ministrada pela profª Drª Sônia Rebel, docente da UFF. Assim, possibilitamos a todos maior acesso ao trabalho de "ser historiador", usando a tecnologia como agente que auxilia no fomento da prática docente e democratiza o conhecimento. Buscamos permitir acessibilidade igualitária, no qual os discentes terão as ferramentas para o exercício da profissão de historiador.
Professora, lembro de a senhora ter mencionado durante as aulas de Grécia o termo hibris que foi muito utilizado durante a Jornada, mas não lembro mais do que se trata e fiquei bastante perdida.
Na questão semântica, ou seja, o significado do termo "hybris" é "desmedida"/"desequilíbrio". Na questão de valores da sociedade helênica a "hibrys" é desvalorizada, pois os indivíduos valorizam a "sophrosyne" ("equilibrio"). Isto nos remete a diversas situações, uma vez que o desequilíbrio pode representar a selvageria, a não-civilidade, algo que diferenciava o ser heleno (civilizado) e o "bárbaro" (selvagem). Deste modo, podemos vislumbrar, em documentação textual e imagética, a depreciação da "hybris" em detrimento da "sophrosyne". Assim, a vida dos helenos deveria estar sempre pautada no equilíbrio de todas as coisas.
Exemplo: Na "Odisséia" - obra de Homero(s) - Polifemo, o cíclope, representa o "bárbaro", pois toma vinho em estado puro, sem misturar com água. Os gregos veem como equilíbrio misturar ao vinho a água, aqueles que se embebedam caem em "hybris" e sofrem por isso.
1) Que pontos permitem diferenciar o período homérico do período arcaico grego?
2) Da mesma maneira, que pontos permitem diferenciar a sociedade Ateniense da sociedade espartana?
3) O fato de usar-se, em esparta, da prática do hilotismo faz com que esta não seja caracterizada como uma sociedade baseada num modo de produção escravista?
4) Mera curiosidade: Parto do princípio, que imagino estar certo, de que havia uma hierarquia nos deuses gregos, em algum momento os gregos deram mais importância a Dionísio do que a Zeus?
No capítulo de Mundo Grego do Trabalho compulsório, está escrita a seguinte passagem, na página 39:
"Em caso de necessidade (por exemplo, ao chegar a colheita), alugava-se uma mão-de-obra ocasional, paga por dia, que podia ser livre, escrava, ou ambas."
Gostaria de saber se, no caso de se alugar mão de obra escrava, o pagamento iria para o dono do escravo ou para o próprio escravo.
estou com algumas dúvidas sobre as medidas dos governantes. O direito ateniense comum foi estabelecido completamente por Sólon, ou ele só deu os primeiros passos para ele com Pisístrato e Clístenes dando continuidade? E quanto a Clístenes, ele foi um tirano de fato ou foi só um magistrado com mais influência? outra coisa: a assembleia popular passa a ter uma função realmente ativa na aprovação de decretos e no debate político?
1) Que pontos permitem diferenciar o período homérico do período arcaico grego? Em relação ao período homérico, este foi importantíssimo pelo surgimento da pólis e em seus primeiros esboços esta era aristocrática, não permitindo a participação popular nas Assembléias, por exemplo, nem nos demais cargos administrativos e legislativos. O período arcaico se abre com o surgimento da pólis, mas como este durou do séc. VIII ao VI, houve desdobramentos históricos importantes, como a chamada um tanto impropriamente "revolução hoplítica" e o aparecimento da legislação soloniana, por exemplo. Devem-se ler outras obras como as de C. Mossé “De Homero a Ésquilo”, Lisboa, Ed. 70; da mesma autora, “As Instituições Gregas”, também das Ed. 70 de Lisboa.
2) Da mesma maneira, que pontos permitem diferenciar a sociedade Ateniense da sociedade espartana?
Esparta era diferente de Atenas em muitos aspectos. Leia o texto do Finley que está na pasta e você mesmo responda à sua dúvida.
3) O fato de usar-se, em esparta, da prática do hilotismo faz com que esta não seja caracterizada como uma sociedade baseada num modo de produção escravista?
Não havia escravidão-mercadoria em Esparta, o hilotismo é diferente. Veja no Trabalho Compulsório as várias fontes sobre outras formas de trabalho compulsório de tipo arcaico, como o existente na Tessália, em Creta...
4) Mera curiosidade: Parto do princípio, que imagino estar certo, de que havia uma hierarquia nos deuses gregos, em algum momento os gregos deram mais importância a Dionísio do que a Zeus? Leia uma boa mitologia, os livros do J. Pierre Vernant sobre Religião grega e o que ele diz sobre o dionisismo. Para adiantar o seu lado, observo que cada deus tem uma "potência", uma esfera a ele ligada. Assim, numa certa ocasião Hera quis seduzir Zeus, e recorreu a Afrodite que lhe cedeu uma certa fita que faria com que ele se deixasse seduzir. Mas Zeus era tido como o mais forte de todos. A minha mitologia é excelente, mas cara! É da Edith Hamilton, da Publicações Dom Quixote. A biblioteca tem boas mitologias e livros do Vernant. E se não obtiver, peça que comprem, lá tem uma caixa de sugestões.
Resposta a Clá
Sim, o pagamento ia para o dono do escravo, porque este embora fosse um ser humano era também uma propriedade, não obtinha personalidade jurídica, e não era dono do pagamento que se fazia ao seu dono. Mas observe a importância de trabalharem lado a lado livres e escravos numa mesma propriedade. Volte ao texto e veja o comentário do autor sobre este fato.
Resposta a Diogo Salles Sobre o direito ateniense, um autor muito considerado, o melhor, na verdade, é Louis Gernet. Me lembre para levar um texto pra vocês sobre este assunto, se quiserem aprofundar. Leia a "revolução clisteniana" do livro da Mossé e verifique porque Clístenes não foi tirano.
Gostei muito das dúvidas de vocês, bem formuladas e instigantes. Profa. Sônia
Professora, lembro de a senhora ter mencionado durante as aulas de Grécia o termo hibris que foi muito utilizado durante a Jornada, mas não lembro mais do que se trata e fiquei bastante perdida.
ResponderExcluirRESPOSTA:
ResponderExcluirNa questão semântica, ou seja, o significado do termo "hybris" é "desmedida"/"desequilíbrio". Na questão de valores da sociedade helênica a "hibrys" é desvalorizada, pois os indivíduos valorizam a "sophrosyne" ("equilibrio"). Isto nos remete a diversas situações, uma vez que o desequilíbrio pode representar a selvageria, a não-civilidade, algo que diferenciava o ser heleno (civilizado) e o "bárbaro" (selvagem). Deste modo, podemos vislumbrar, em documentação textual e imagética, a depreciação da "hybris" em detrimento da "sophrosyne". Assim, a vida dos helenos deveria estar sempre pautada no equilíbrio de todas as coisas.
Exemplo: Na "Odisséia" - obra de Homero(s) - Polifemo, o cíclope, representa o "bárbaro", pois toma vinho em estado puro, sem misturar com água. Os gregos veem como equilíbrio misturar ao vinho a água, aqueles que se embebedam caem em "hybris" e sofrem por isso.
Vamos lá... tenho algumas dúvidas:
ResponderExcluir1) Que pontos permitem diferenciar o período homérico do período arcaico grego?
2) Da mesma maneira, que pontos permitem diferenciar a sociedade Ateniense da sociedade espartana?
3) O fato de usar-se, em esparta, da prática do hilotismo faz com que esta não seja caracterizada como uma sociedade baseada num modo de produção escravista?
4) Mera curiosidade: Parto do princípio, que imagino estar certo, de que havia uma hierarquia nos deuses gregos, em algum momento os gregos deram mais importância a Dionísio do que a Zeus?
Desde já, obrigado!
(SR)
No capítulo de Mundo Grego do Trabalho compulsório, está escrita a seguinte passagem, na página 39:
ResponderExcluir"Em caso de necessidade (por exemplo, ao chegar a colheita), alugava-se uma mão-de-obra ocasional, paga por dia, que podia ser livre, escrava, ou ambas."
Gostaria de saber se, no caso de se alugar mão de obra escrava, o pagamento iria para o dono do escravo ou para o próprio escravo.
Obrigada!
(SR)
estou com algumas dúvidas sobre as medidas dos governantes. O direito ateniense comum foi estabelecido completamente por Sólon, ou ele só deu os primeiros passos para ele com Pisístrato e Clístenes dando continuidade? E quanto a Clístenes, ele foi um tirano de fato ou foi só um magistrado com mais influência?
ResponderExcluiroutra coisa: a assembleia popular passa a ter uma função realmente ativa na aprovação de decretos e no debate político?
RESPOSTAS :
ResponderExcluir1) Que pontos permitem diferenciar o período homérico do período arcaico grego?
Em relação ao período homérico, este foi importantíssimo pelo surgimento da pólis e em seus primeiros esboços esta era aristocrática, não permitindo a participação popular nas Assembléias, por exemplo, nem nos demais cargos administrativos e legislativos. O período arcaico se abre com o surgimento da pólis, mas como este durou do séc. VIII ao VI, houve desdobramentos históricos importantes, como a chamada um tanto impropriamente "revolução hoplítica" e o aparecimento da legislação soloniana, por exemplo. Devem-se ler outras obras como as de C. Mossé “De Homero a Ésquilo”, Lisboa, Ed. 70; da mesma autora, “As Instituições Gregas”, também das Ed. 70 de Lisboa.
2) Da mesma maneira, que pontos permitem diferenciar a sociedade Ateniense da sociedade espartana?
Esparta era diferente de Atenas em muitos aspectos. Leia o texto do Finley que está na pasta e você mesmo responda à sua dúvida.
3) O fato de usar-se, em esparta, da prática do hilotismo faz com que esta não seja caracterizada como uma sociedade baseada num modo de produção escravista?
Não havia escravidão-mercadoria em Esparta, o hilotismo é diferente. Veja no Trabalho Compulsório as várias fontes sobre outras formas de trabalho compulsório de tipo arcaico, como o existente na Tessália, em Creta...
4) Mera curiosidade: Parto do princípio, que imagino estar certo, de que havia uma hierarquia nos deuses gregos, em algum momento os gregos deram mais importância a Dionísio do que a Zeus?
Leia uma boa mitologia, os livros do J. Pierre Vernant sobre Religião grega e o que ele diz sobre o dionisismo. Para adiantar o seu lado, observo que cada deus tem uma "potência", uma esfera a ele ligada. Assim, numa certa ocasião Hera quis seduzir Zeus, e recorreu a Afrodite que lhe cedeu uma certa fita que faria com que ele se deixasse seduzir. Mas Zeus era tido como o mais forte de todos. A minha mitologia é excelente, mas cara! É da Edith Hamilton, da Publicações Dom Quixote. A biblioteca tem boas mitologias e livros do Vernant. E se não obtiver, peça que comprem, lá tem uma caixa de sugestões.
Resposta a Clá
Sim, o pagamento ia para o dono do escravo, porque este embora fosse um ser humano era também uma propriedade, não obtinha personalidade jurídica, e não era dono do pagamento que se fazia ao seu dono. Mas observe a importância de trabalharem lado a lado livres e escravos numa mesma propriedade. Volte ao texto e veja o comentário do autor sobre este fato.
Resposta a Diogo Salles
Sobre o direito ateniense, um autor muito considerado, o melhor, na verdade, é Louis Gernet. Me lembre para levar um texto pra vocês sobre este assunto, se quiserem aprofundar.
Leia a "revolução clisteniana" do livro da Mossé e verifique porque Clístenes não foi tirano.
Gostei muito das dúvidas de vocês, bem formuladas e instigantes.
Profa. Sônia
Minha dúvida refere-se ao seguinte questionamento:
ResponderExcluir-É possível considerar o hilotismo espartano como uma forma de servidão intercomunitária?
-Se não, quais seriam os melhores exemplos para esse tipo de servidão?
As reformas de Sólon garantiram o que para a população?
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